O
encontro entre todas as culturas resultaria em cultura nenhuma.
Numa
fase inicial, se todas as culturas convergissem num mesmo espaço, haveria uma
partilha tal que, aparte o caos que geraria, aconteceria uma absorção
informativa superior à que um indivíduo suporta. Esse ponto de quebra, essa
falha no suporte do indivíduo, é por onde entra e circula a informação
adicional. É a criação da predisposição a nova informação e à sua absorção. A
cultura desse mesmo indivíduo é, assim, corrompida. A sua cultura já não é mais
da sua cultura, mas sim da de uma interferência externa cujo efeito em cadeia
determina o resultado final, o indivíduo final, a mente final, a cultura final.
Chegando ao topo da pirâmide, onde todas as culturas se fundem, anula-se a
acção, pelo que a distinção é inexistente, a linguagem é inexistente, o ritmo é
inexistente, o cheiro é inexistente, o vislumbre é inexistente, o movimento é
inexistente.
O
topo da pirâmide é o seu começo. É preciso sair desse vértice, que é o culminar
de todas as arestas, para que se entenda alguma coisa. A mais ínfima coisa. O
mais pequeno pormenor, o mais tímido detalhe. E é a partir desse detalhe
ínfimo, onde não há vértice algum, que acontece a distinção. A partir dessa
distinção, a partir da distância que se cria do vértice, a partir do
retrocesso, da ausência da ideia de que se quer chegar ou voltar ao cume, ao
vértice, nesse caminho longo, detalhado, acontece um determinado aglomerado de
detalhes que se juntam em uníssono, que se distinguem de um outro qualquer
aglomerado de detalhes que, por si só, é igualmente uníssono, e assim
sucessivamente. Até à distância que nos separa deveras. Até ao afastamento que
nos caracteriza e que tão amargamente nos obriga a não querer compreender o
outro aglomerado, a outra cultura, mesmo que, visceralmente, saibamos que a
distinção é vã.
Voltámos
à expansão a caminho da base.
Voltámos
à distância do cume.
Voltámos
a não ser um vértice.
Tiago José
Chaves
20/01/2016
18:24